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The ever-changing world of communication

A guerra aos olhos das redes sociais

31 de Março de 2022Margarida Rangel

Tudo acontece muito mais rápido e o motivo é a velocidade com que a informação circula. Nas últimas semanas temos vindo a ser invadidos com notícias vindas de todos os meios de comunicação sobre a guerra que se trava na Ucrânia. Segundo o Google, em fevereiro, o termo guerra subiu ao maior nível de pesquisas desde 2004, aquando do agravamento da situação do Iraque. Desde soldados ucranianos que partilham vídeos do dia a dia na linha da frente, até professores que traduzem em tempo real discursos de autoridades, o que não falta são conteúdos que de uma forma ou de outra retratem o dia a dia vivido na Ucrânia.
Nesse sentido, as redes sociais têm sido um importante palco disseminador de notícias e informações relativas ao estado de situação do conflito, mas também um importante meio de partilha de conteúdos real time e opiniões. Todos veem e todos opinam.
Mas afinal como é que as redes sociais se transformaram num campo de batalha neste conflito?
 
O palco da internet
Acompanhar relatos de conflitos de guerra não é uma novidade. Contudo, vivê-la em direto nas redes sociais constitui uma nova forma impactar diretamente os internautas e deixá-los mais comovidos e suscetibilizados com os acontecimentos, levando-os a expor as suas opiniões e juízos nestas plataformas, disponíveis e acessíveis em qualquer parte do mundo. A verdade é que muitas das principais batalhas de uma guerra estão diretamente ligadas à perceção do público em relação àquilo que se diz, o que se mostra e com o que se esconde. Verificar a informação e torná-la visível aos olhos do mundo tem sido um fator diferenciador e distinto de todas as realidades vividas até ao momento. A guerra entrou rapidamente na agenda mediática dos países e não há sinais de vir a terminar tão cedo. Apesar de não ser estreia assistir a uma guerra em direto nas televisões, rádios e jornais, é a primeira vez que a vemos espelhada cruamente no online.
 
A guerra na Era do digital
Nos últimos anos temos vindo a assistir a uma transformação abismal na forma como se comunica online. As redes sociais ganharam um destaque colossal no quotidiano das comunidades internautas e na forma como estas reagem aos mais diversos assuntos do dia a dia. Muito além da comunicação tradicional utilizada pelos media, há hoje uma forte e incessante dinamização dos canais de comunicação digital, em especial das redes sociais, para transmitir em tempo real conteúdos que de outra forma nunca se propagariam à mesma velocidade. É nas redes sociais que estão milhares de utilizadores à curta distância de um clique ou play para aceder a notícias e conteúdos que de outra forma levariam horas ou mesmo dias a poder aceder.
No atual conflito entre a Rússia e Ucrânia, observam-se cenários de partilha de conteúdos por militares e civis, como meio de divulgar a realidade vivida na guerra. O Tik Tok é atualmente a rede social mais utilizada por adolescentes, mas também uma das mais utilizadas por políticos e organizações para difundir vídeos virais e conteúdos consumidos pelas massas. É nesta rede social que têm sido partilhados diariamente vídeos que retratam de forma crua e real, aquilo que é a forma vil e cruel os bombardeamentos e ataques ao país da Ucrânia
Políticos, organizações internacionais e cidadãos de todas as partes do globo estão atentos ao conflito e têm encontrado nas redes sociais um canal para expandir informações ao minuto, mostrar a realidade e definir pontos de vista. Seja através de texto, imagem, hashtags ou vídeo, são milhares os conteúdos partilhados dia após dia sobre este conflito, retratando a realidade vivida e estampando nos ecrãs de todos os que queiram ver, os massacres e atrocidades que decorrem em solo ucraniano.
O Instagram, Twitter, Facebook e Whatsapp têm assumido também importantes papéis de partilha de conteúdos e de apoio solidário. Manifestações antiguerra, movimentos solidários e campanhas de ajuda humanitária têm sido criadas com o objetivo de apoiar famílias carenciadas e cidadãos em fuga. É também indiscutível a criação de inúmeras ações de fundraising que têm sido levadas a cabo por organizações e marcas ilustres, com vista a apoiar incansavelmente famílias destruídas por este conflito.
 
Zelensky, o comunicador nato
Zelensky, presidente da Ucrânia, tem sido um dos rostos incontornáveis desta guerra que se trava não só em solo ucraniano, mas também nas redes sociais. A sua frontalidade, coragem e bravura têm sido aplaudidas e aclamadas um pouco por toda a parte. O presidente tem usado estes recursos digitais e canais online para comunicar não só com o seu povo, mas também com a opinião pública mundial, com uma eficácia e segurança notáveis. A sua conta de Instagram conta com mais de 16 milhões de seguidores e a partilha de conteúdos é feita numa base diária, alcançando milhões de utilizadores um pouco por todo o mundo. As suas mensagens são fortes e impactantes, estando inclusive o seu nome nas trend topics do Twitter dias a fio.
A imagem real de um líder nato a resistir estoicamente ao abuso de poder, tirania e opressão do seu opositor russo, fazem de Zelensky um herói à escala mundial. A partilha de vídeos de soldados russos a serem rendidos e acolhidos pelas tropas e civis ucranianas têm comovido as comunidades online, nesta guerra que se trava também nas redes sociais. A perceção e opiniões são maioritariamente unânimes. A Rússia assume uma posição bastante desconfortável e negativa na opinião dos milhões de internautas que diariamente participam ativamente na partilha e comentários a conteúdos relacionados com a guerra.
 

Importa, contudo, referir algumas perguntas para as quais não temos respostas: Será que se a guerra não fosse pública, a intervenção humanitária e militar seria igualmente tão ativa? Será que se não tivéssemos acesso aos conteúdos em regime real time as sanções aplicadas à Rússia seriam tão duras? É difícil prever na prática se o impacto das redes sociais se repercute de forma direta naquele que é o ponto de situação atual da guerra. Contudo, é indiscutível que estas desempenham um papel fulcral na defesa da liberdade e da democracia, neste que é um dos momentos mais frágeis e tristes da Europa do século XXl.