Blogue

O mundo da comunicação em constante mudança

Quem é o consumidor 3.0? O que o define? Em que cenário se vai desenvolver e como deverão as marcas adaptar-se para chegar a ele?

08 de Outubro de 2019Aldara Rodrigues

Vivemos hoje um novo modelo de sociedade. Uma sociedade definida pela tecnologia, onde o consumidor se torna mais crítico, mais exigente e muito menos paciente.  Eduardo Irastorza, na sua investigação sobre ‘O Consumidor de 2030’, dá-nos algumas luzes sobre as novas tendências de consumo. 

O debate está aberto. Falar do novo consumidor pode ser um tema ‘quente’. A verdade é que ainda não há consenso quando o tema é o futuro do consumo global. No entanto, podemos já começar a traçar o perfil deste novo consumidor. Afinal de contas, será ele a ditar as regras.

Para definirmos tendências importa olhar para o perfil traçado por Irastorza. O que define então o consumidor 3.0?

O consumidor 3.0 é um cidadão informado e exige conteúdos diversos e no imediato, não fosse ele o produto de uma geração altamente tecnológica, onde a internet se assume parte essencial da rotina diária.

Falamos de um consumidor com conhecimento e que tem um papel ativo na definição de tendências, contribuindo para a criação de novos produtos e segmentos de atividade. Avalia o produto e dita a sua continuidade ou extinção. As marcas deverão ter isto em grande conta.

É também um consumidor emocional, impulsivo, que justifica a sua aquisição emocional com a razão. Arranja sempre bons argumentos para o facto de ter comprado algo (ainda que pudesse nem precisar). Não podemos esquecer que hoje os estímulos à compra surgem de vários meios e plataformas, logo, o poder de influência e conversão é muito maior.

Por tudo isto mas não só, podemos definir o consumidor 3.0 como um consumidor Poderoso! Exige o melhor ao melhor preço e é seletivo na hora da comprar. É por isso mais respeitado, o que o leva a sentir-se o centro das atenções. Por ser uma pessoa ocupada e ativa, exige também agilidade em todo o processo de compra. Não tem paciência para erros nem para esperas. Tenha maior ou menor poder económico, é sempre determinado na seleção dos melhores produtos. Caminhamos para a era em que o consumidor 3.0 será o mais rico de sempre a nível global. Por outro lado, todo este poder de compra leva a que este consumidor seja mais velho. Este fator vai gerar nas marcas a necessidade de criar produtos adaptados à sua faixa etária, adaptando-os às suas necessidades e capacidades.

E as marcas devem ter noção de que é preciso pouco para perder este consumidor. Ele é intolerante e rancoroso. Não aceita erros e é infiel. Facilmente muda de uma marca para a concorrente se, de alguma forma, se sentir aborrecido. À semelhança do consumidor atual, é também atento à poupança e volúvel às promoções e campanhas de última hora.

Uma vez traçado o perfil do Consumidor 3.0 importa perceber em que contexto se desenvolverá.

Na sua investigação, Irastorza afirma que serão os consumidores dos mercados emergentes a impulsionar a economia.

As novas potências asiáticas assumirão um papel relevante e serão as responsáveis pelo crescimento da economia, ao passo que as potências ocidentais tradicionais viverão uma evolução muito moderada.
Será a China a estar na vanguarda do aproveitamento da Internet, principalmente no desenvolvimento de aplicações. O consumidor 3.0 chinês terá à sua disposição a mais avançada tecnologia e as aplicações mais sofisticadas, pelo que o mercado chinês será um forte concorrente ao ocidente.

Irastorza chega até a afirmar que “gigantes como a China e a Índia serão os que mais acumularão capital em 2030”, pelo que é expectável uma enorme transformação do mercado financeiro a nível global.
Por estes motivos, a classe média será cada vez menos ocidental, com a Índia a ocupar um lugar de destaque. Será o país mais povoado da Terra, com mais de 500 milhões de habitantes da classe média – mais do dobro da população total da Europa.

À medida que países como a Nigéria, o Paquistão e a Indonésia verão as suas classes médias converterem-se em poderosos motores de crescimento económico, o Ocidente, por sua vez, terá os ricos cada vez mais ricos e a classe média sofrerá uma diminuição significativa à medida que se torna também mais envelhecida. Assim, os europeus serão mais velhos e com menos dinheiro para gastar. Este é um cenário que as empresas não podem descurar. A Europa enfrenta este grande problema que é o envelhecimento a população. O consumidor 3.0 europeu terá a maior esperança média de vida de sempre, mas terá rendimentos muito baixos. Isto vai levar a que a economia entre em modo ‘pausa’.

Por outro lado, assistiremos a uma reviravolta há muito desejada: a equiparação da mulher ao homem. Irastorza prevê que a o salário das mulheres iguale o dos homens, especialmente na Europa Ocidental e na América Latina. Esta tendência, que já está em curso, tem sido alvo de olhares atentos por parte das empresas e das marcas, que já veem as mulheres como um segmento muito atrativo para a sua oferta comercial.

Olhando para o futuro, depois de traçado o perfil do consumidor 3.0 e de analisado o seu habitat, chegou altura de olhar para a realidade em que viverá.  

O consumidor 3.0 depositará toda a sua confiança no mundo digital, que assumirá cada vez mais relevância. Os dispositivos móveis serão a plataforma de compra mais usada e espera-se que o numerário em papel venha a desaparecer, o que autor pensa não ser o ideal, mas estima que aconteça.

Chegaremos à era das Apps, que assumirão relevância diária a nível pessoal e profissional. O grande objetivo será a criação da ‘Super App’: uma aplicação que esteja presente em toda a rotina do consumidor 3.0, que o acompanhe nos vários momentos do seu dia-a-dia e que responda a todas as suas necessidades.

Cada vez mais as empresas adotarão os modelos de subscrição dos seus serviços online. Enquanto hoje vemos toda uma geração que se recusa a pagar para ler uma notícia ou para aceder a um conteúdo, o futuro será diferente e todos os conteúdos exigirão subscrição. Pode não ser uma subscrição na troca de dinheiro mas de algo ainda mais valioso: os dados do consumidor. Serão estes dados a permitir uma primeira abordagem. Ucontacto que pode se convertido em venda.

Por ser um consumidor formado e informado, exigente e impulsivo, é importante que as marcas o tornem protagonistas das suas histórias. Este consumidor gosta de se sentir o centro das atenções. Quanto mais atenção a marca lhe der, mais ganhará. Ainda assim, outra coisa que valorizam (e muito) é a sua privacidade, pelo que as empresas terão de gerir com cautela os dados recolhidos e os contactos a efetuar. Como dissemos acima, basta pouco para este consumidor romper com uma marca e passar à concorrência.

Para terminar, podemos concluir que a investigação de Irastorza nos permite começar a traçar novas formas e estratégias para chegar aos futuros consumidores. As marcas terão de se adaptar a novos perfis, novos mercados emergentes e novas tendências de consumo. Está tudo em aberto e o caminho já começa a ser trilhado. As marcas que melhor se adaptarem, serão as que mais terão a ganhar.
 
“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.


Fonte:
Marzo, 2019. El consumidor de 2030. Evolución de ingresos y gastos y megatendencias. Irastorza, E.