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O mundo da comunicação em constante mudança

A culpa é mesmo das redes sociais?

08 de Fevereiro de 2017Pedro Alves

Estarão as redes sociais a alterar radicalmente o comportamento humano ao ponto de colocar em risco todas as ferramentas de comunicação “clássicas” usadas pelas empresas?

Flashback: nos anos 90 do século passado a Internet e o CD-ROM preparavam-se para acabar com o suporte Livro, tal como o conhecíamos em papel, não faltando previsões assertivas sobre a vitória esmagadora dos bits sobre os átomos em apenas dez anos; e já duas décadas antes o vídeo matara definitivamente as estrelas da rádio, num claro exemplo de que a cada evolução tecnológica corresponde um duro enterro da tecnologia anterior.

De volta ao presente, são as chamadas Redes Sociais que ameaçam hoje os índices de leitura de livros, de jornais e revistas, das audiências da TV e da rádio e, já agora, ameaçam a própria comunicação oral e o contacto presencial entre as pessoas. Nada mais errado, olhando sobretudo para o carácter parcialmente cíclico da história dos comportamentos.

Em todas estas situações podemos encontrar pontos comuns associados à Comunicação Empresarial: a cada evolução tecnológica surgem novas ou renovadas ferramentas que aumentam a eficiência da comunicação; mas em todas elas muitos decisores vêm uma espécie de Santo Graal, que finalmente permitirá alcançar os públicos-alvo com custos ínfimos e rentabilizações nunca antes alcançadas.

Ora, se há vantagem inigualável nas chamadas novas tecnologias aplicadas à Comunicação ela está, exatamente, no aumento da diversidade de suportes e ferramentas disponíveis. Isto permite maior criatividade na hora de criar e enviar a mensagem, abrindo, ao mesmo tempo, novos canais de interação para chegar aos consumidores e/ou aos parceiros com mais eficácia.

As grandes inovações tecnológicas têm normalmente pouco a ver com tecnologia e muito com o lado social. Por isso mesmo um dos maiores erros da Comunicação Empresarial moderna é a perceção de que as chamadas redes sociais darão conta de todos os recados, a custos muitíssimo inferiores e com níveis de eficiência estratosféricos, simplesmente porque a tecnologia o permite.

Tal como o vídeo acabou por não matar a estrela da rádio – apenas a obrigou a reinventar-se para novas formas de comunicar, num sentido complementar e não exclusivo - também as chamadas redes sociais são um novo motor a usar como engenho complementar, porventura único em alguns cenários, mas longe de ser esse Cálice Sagrado que muitos apregoam.

E se todas as outras ferramentas clássicas de comunicação continuam a ser fundamentais para transmitir a mensagem de forma direcionada, aproveitando cada vez mais esse efeito de complementaridade, será também redutor culpar as redes sociais por todos os males da comunicação atual. Afinal, elas são apenas mais uma ferramenta à nossa disposição.